sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Como?

Como cantar, passarinho?
Se me abandonas-te no meio da imensidão?
Se deixas-te a melodia do externo pela metade?
Se o pintar do arco-íris não foi à prova de lágrimas?
Se mesmo embalando teu sono através do cantar,
Certeza me deste, de que nunca ouvira minha canção.

Como esperar, passarinho?
Se nem mais as folhas secas lá fora, dançam sob o asfalto liso e incolor?
Se o horizonte segue se dilatando como o vazio brusco no peito?
Se ao anoitecer me aninho na toca,
E certeza tenho, de que o teu corpo aquecido,
Jamais fizera morada ali.
Ah, quanto apresso despercebido,
Quanta mensagem não sentida,
Quanto cheiro de eternidade, apagado pela chuva de agora.

Como ter-te, passarinho?
Se a tua atenção se foi, junto à crença no desigual?
Se a tua fome é saciada com o enganar dos olhos?
“Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.

Como limpar teus olhos, passarinho?
Para que veja a beleza que há, na verdade não hesitada.
Para que veja quão belos são os olhos que choram,
Quão belas são as lágrimas de quem faz alguém sorrir!

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